É muito comum pais chegarem com esse questionamento ao consultório, e sempre dizem que quando criança as coisas eram mais fáceis. Citam exemplos, de que se o pai desse somente uma olhada parava imediatamente de fazer a tal travessura, ou se a mãe chamasse pelo nome (e não pelo apelido) imediatamente paravam. Nessa época não perguntavam o porquê , apenas obedeciam. Mas esses mesmos pais se defendem, alegando que agora as coisas são muito mais difíceis, que as crianças parecem nascer “com um chip” para desafios e questionamentos.

Essa dificuldade em colocar limites se entende ao ambiente escolar porque ouvimos as mesmas queixas dos professores.Esses pais não perceberam que não colocar limites não significa que você não está protegendo a criança para o mundo, pelo contrário. É importante proibir quando se infringe as regras. Para isso, é importante que as regras de casa ou da escola estejam claras para os adultos e para as crianças envolvidas nesse contexto. Quando não se obedece ou se burla uma regra, é importantíssimo que haja repreensão e que seja realçada a proibição de manter tal postura.Quando repreendemos estamos protegendo as nossas crianças. Com o lidar com o “não”, essa criança está amadurecendo e percebendo que existem outros além dela e se torna responsável pelos seus atos. A criança que não passa por essa situação de receber um “não” pode buscar esse limite na vida. Ou seja, ela precisa e busca esse “não”, e vai buscar em situações de risco, caso não receba em casa ou na escola.É importante que os pais tenham noção dessa situação.

Atendo muitos pais que por medo de não receber o amor ou não ter a amizade dos seus pimpolhos não dizem “não”, não colocam de castigo, não repreendem. Os pais precisam saber que essa criança, na medida em que vai se tornando um cidadão, ou seja, faz parte de uma sociedade, vai absorver as leis dessa mini sociedade que convive (família e escola), para poder se tornar um adulto preparado para o mundo. Não adianta pais colocarem seus filhos nos melhores colégios, ensinar diversos idiomas, se essas crianças não estiverem preparados para receber e dar “não” para as ofertas da vida adulta. Não vão ter o jogo de cintura necessário para se tornar um adulto responsável e bem sucedido na vida.Quando colocamos limites para nossas crianças ensinamos a elas que direitos e deveres são para todos, que elas não são únicas no mundo, que os pais e a vida vão dizer “sim” sempre que possível e não quando querem. Mostramos que a vida é dessa forma, que existem coisas que podem ser feitas e outras que não devem ser seguidas, ensinamos a tolerar as frustrações (que na vida serão muitas), saber que as pessoas não estão ali para satisfazer suas vontades. Eles devem aprender a distinguir o que é uma necessidade ou apenas um desejo e, principalmente, saberem que os pais estão ali para amar e proteger, e não são meros “empregados” para satisfazer suas vontades. 

Uma das causas das dificuldades dos pais de colocar limites está relacionada à idealização de que fazem desse projeto o bebê perfeito. Antes dessa criança nascer, seus pais já planejaram tudo da vida da criança. Já sabem que atividades extras acham interessante para criança (dança, tênis etc.), estilo de se vestir, idiomas, intercâmbios e até o colégio. Os pais não se preparam para as intercorrências que vão surgindo, como doenças, medos, birras, gostos, falta de jeito (não ter jeito para atividade esportiva, por exemplo) e personalidade da criança.É necessário que os pais e as crianças saibam e aprendam a lidar com o “não”. Os pais devem viver um luto dessas suas fantasias que o seu bebê não é a sua continuidade, ele tem gostos e personalidades. E as crianças precisam receber esse “não” e aprenderem a lidar com essa frustração com o carinho e apoio dos pais.Quando pequenos, os primeiros “não” que recebem é de proteção física. Não podem colocar objetos na boca ou não podem engatinhar, ou descer do berço. As crianças vão reagir com choro ou, quando um pouco maior, vão lidar com uma hiperatividade. Surge a oposição ou o desafio já em bebês, quando, por exemplo, não deixamos colocar o celular novo do pai na boca. Nesse momento é importante os pais dizerem “não” e não cederem à oposição do seu bebê.

A dificuldade em colocar limites que os pais sentem nesse momento está muito relacionada à culpa de estar pouco tempo com os seus filhos. Acabam sendo permissivos, na tentativa de aliviar a sua culpa. Não entendem que o afeto que demonstra ao seu filho não está relacionado à quantidade de horas que se dedica ao filho, e sim a qualidade da atenção que se dedica ao filho.Essa dificuldade em colocar limites nos seus pequenos reforça uma relação equivocada de pais e filhos. Inicia uma relação baseada no querer da criança, onde os pais precisam satisfazer essa vontade. Eles não aprendem que devem amar os seus pais, mas que os pais estão ali para servir as suas vontades. Nesse momento, o bebê deveria aprender que os pais estão ali para ensinar a crescer, e para isso, vão ter que aprender a enfrentar frustrações na vida. O ideal para aprender a lidar com frustração é nesse momento em que recebem o colinho, o “porto seguro” dos seus pais.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: