Autora: Elizabete Possidente
Tenho quase 30 anos de formado em Medicina. A formação na faculdade de Medicina na minha época até hoje é de 6 anos. Depois de 6 anos, o médico se forma e é generalista. Depois disso, ele precisa, para ter uma especialidade, de mais alguns anos em uma residência médica e sai com o seu título de especialista. Quando se quer a especialidade, mas não foi aprovado para a residência médica, ele faz uma pós-graduação e, no final do curso, faz uma prova para conseguir o título de especialista. Isso sempre ocorreu dessa forma.
Entretanto, vejo uma grande diferença da época em que me formei para agora. Nos meus tempos de recém-formado, apesar de não existir a dificuldade em se comunicar com os outros médicos como existe atualmente, como WhatsApp e e-mails, os médicos se comunicavam. Vou dar um exemplo na minha clínica: um paciente meu em tratamento com medicamentos da psiquiatria e era atendido por outro especialista de outra área (por exemplo, cardiologista ou geriatra), se tinha dúvidas ou sugestões, ele fazia contato com o médico. Apesar desses quase 30 anos de formado, e que nesse tempo surgiram muitas descobertas em todas as especialidades em exames complementares, testes genéticos, medicamentos e de doenças, parecem que os médicos parecem se achar que sabem mais medicina do que antes. Eles acham que sabem mais de psiquiatria do que o próprio psiquiatra. Muitos querem mudar a posologia ou substituir medicamentos ou questionar a conduta do médico. Pior que para o paciente e/ou familiar, causando ainda mais fragilidade e confusão na cabeça desse paciente. Isso tudo disfarçado no interesse do estado de saúde desse paciente. Se estão tão interessados e preocupados, por que não fazem contato com o médico assistente e depois, sim, conversam suas dúvidas se ainda tiverem com o paciente e o familiar? Cada vez mais isso vem ocorrendo.
Se as especialidades médicas surgiram para atender à complexidade crescente das doenças e dos tratamentos, que exigem conhecimentos, estudos contínuos em congressos e artigos atualizados e habilidades específicas para o tratamento adequado, cada especialidade médica tem o seu próprio conjunto de técnicas e expertise. Com isso, ele se torna um especialista de referência em sua área de interesse.
Voltando ao meu exemplo, sou psiquiatra. Logo, quando me ausento do consultório para participar de congressos e cursos, são da minha área da especialidade Psiquiatria. Quando renuncio ao meu lazer e de ficar com a minha família, vou estudar os artigos científicos e novidades da minha área. É claro que sou médico, mas não sou eu a pessoa mais bem indicada para prescrever um anticoncepcional para um adolescente. Conheço as medicações, mas não tão aprofundado como um ginecologista.
O médico que opta por seguir uma especialidade médica passa por um treinamento específico em sua área de interesse, adquirindo conhecimentos aprofundados e habilidades técnicas avançadas. Com isso, ele se torna capaz de oferecer tratamentos mais eficazes e precisos para as condições específicas relacionadas à sua especialidade médica.
Devemos respeitar as especialidades médicas porque os médicos especialistas passam anos em treinamento e estudos para desenvolver habilidades específicas e conhecimentos avançados em sua área de atuação. Ao respeitar as especialidades médicas, reconhecemos a importância de cada área de atuação e, principalmente, garantimos o melhor tratamento possível para as condições médicas do nosso paciente.
Quando falamos de doenças da Psiquiatria, temos que ter muito cuidado ao abordar as dúvidas dos pacientes, pois sabemos que, infelizmente, a disciplina de Psiquiatria é abordada muito rapidamente no curso de Medicina. Muitos médicos dizem conhecer os remédios da Psiquiatria, mas pode ser que seja apenas por meio de artigos e propagandas feitas diretamente pelos propagandistas da indústria farmacêutica. Além disso, falamos com pacientes que já sofrem com o medo da doença e dos remédios da psiquiatria, devido ao preconceito que ainda é muito forte em nossa cultura, devido à falta de conhecimento.
Não podemos afirmar ao paciente que pode reduzir a medicação sem conhecer o histórico médico que o acompanha. Não podemos afirmar que o remédio é “muito forte” para ele ou que ele toma muitos remédios. Nem insinuar que o ganho de peso, o tremor, a disfunção sexual ou qualquer outra intercorrência é provocada pelo medicamento psiquiátrico que utiliza, muitas vezes, há anos, pois a maioria das doenças psiquiátricas são crônicas. É aconselhável enviar uma mensagem por WhatsApp ou e-mail para trocar informações ou combinar um horário para os médicos trocarem o histório do quadro clínico do paciente.
Para garantir o melhor tratamento ao nosso paciente, é fundamental garantir uma assistência médica de qualidade que permita que os médicos e outros profissionais de saúde trabalhem em equipe, troquem informações e conhecimentos, e possam oferecer um tratamento multidisciplinar, que é fundamental para o sucesso do tratamento médico.
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