É um caso trágico que representa a falência do investimento em Saúde Mental.
A doença mental só vem aumentando e a quantidade de leitos psiquiátricos e número de consultas ambulatoriais só vem diminuindo. Não entendo isso é a única doença que aumenta e reduz a disponibilidade ao tratamento.
Pelo relato do processo o paciente que colocou fogo em crianças de uma creche, professora e em si próprio , estava com delírio persecutório desde 2014. Ele acreditava que a sua mãe estava querendo o envenenar. Imagina o sofrimento que ele passava e a sua família, pois, por doença psiquiátrica , ele realmente acreditava nisso.
O Ministério Público determinou que uma psicóloga fizesse um parecer sobre esse quadro em 2014. Também não entendo o motivo da avaliação psicológica, e não , de um parecer médico Psiquiátrico. Acho tão óbvio que nesse caso, a pessoa necessitava de um psiquiatra. Ele estava francamente psicótico e, necessitava de uso de medicação com urgência.
Como qualquer doença, se não existe tratamento precoce, a doença vai se agravando. Se em 2014, ele já estava isolado e delirante, certamente, esse quadro evoluiu e se agravou.
Infelizmente, precisamos discutir esse caso diante de uma tragédia que chocou o nosso país. Um caso que poderia ter sido evitado com tratamento psiquiátrico adequado.
Quantos casos acontecem , com um sofrimento enorme de uma pessoa e seus familiares, que podem não chegar a um crime, mas que adoecem e incapacitam. Quantos outros casos, que podem levar a crimes que não atingem a mídia pública. Eu mesma, quando atendia no manicômio judiciário no Rio de Janeiro, avaliei pacientes que mataram a mãe ou jogaram água fervente num familiar , diante de um surto psicótico. Muitos casos, os familiares tentaram atendimentos psiquiátricos e não conseguiram, não tinha médico, não tinha vaga ou não tinha leito no hospital. Quantos casos, pacientes sem tratamento, angustiados e se suicidam.
Mês passado foi da campanha Setembro amarelo em que se discutiu a importância de combater suicídio que vem aumentando no Brasil e no mundo. Nessa campanha o foco é divulgar os sintomas de doença psiquiátrica e o tratamento. Apesar de não estarmos no mês de setembro, esse crime nos remete ao mesmo foco da campanha.
Foi muito chocante esse crime em Munas Gerais, sabemos que provocou em todos um misto de emoções, raiva, tristeza, medo e perplexidade. Temos que transformar essa emoção num pragmatismo para continuarmos na discussão do diagnóstico e tratamento da doença mental.
Outro caso noticiado nos jornais foi o Massacre na Escola em Realengo, também foi comentado por mim no seguinte post