A Infância é um período importante na formação da personalidade e do caráter. Vai determinar como indivíduo vai agir e pensar durante a vida adulta.
Com o avanço da tecnologia e da internet acreditava-se que esses novos estímulos seriam responsáveis por desenvolver uma neuroplasticidade nas crianças. As tornaria muito mais curiosas, determinadas na busca de conhecimentos e integradas na coletividade.
Entretanto, na prática, o que assistimos são jovens “hipnotizados” por uma tela, buscando apenas conhecimento superficial e se afastando de atividades do mundo real.
Passou a ser uma preocupação mundial o impacto da Internet nos jovens que integram a geração Z, aqueles chamados de nativos digitais (os nascidos entre 1990 e 2010). A China já considera um problema de saúde pública. Existem mais de 150 centros de tratamento psiquiátrico especializados em dependência de Internet no país, em regime de internação e ambulatório. No Brasil essa geração Z tem cerca de 22 milhões de pessoas. Temos observado mudanças nesses jovens, com prejuízo no seu desempenho social e acadêmico.
Mas o que fazer? Será que devemos proibir as crianças terem acesso à internet?
Não acredito na proibição como solução para o problema. O caminho é orientar os responsáveis de como ensinar e como apresentar a internet aos filhos. Os pais precisam supervisionar o uso da Internet de crianças e adolescentes bem de perto. Pontuar sempre que existe responsabilidade sobre o conteúdo disponível. Regrar o tempo dedicado de seus filhos nos eletrônicos, de acordo com idade e maturidade de cada um.
Normalmente o que traz prejuízo na vida de uma pessoa é o excesso, devemos buscar sempre o equilíbrio. Isso nas crianças é ainda mais grave, pois estão em fase de formação do Sistema Nervoso Central. Não só em relação à internet, mas em praticamente tudo. Se a criança só pensa em jogar futebol, por exemplo, vai negligenciar outras atividades de sua vida e isso provavelmente trará algum prejuízo no futuro.
Não podemos deixar de acreditar que a Internet é uma ferramenta bastante útil nos tempos atuais, e bem usada será um auxílio importante na educação continuada junto ao colégio e no aumento de conhecimento geral. Ela faz parte da nossa realidade e devemos considera-la uma ferramenta importante, se usarmos da maneira correta.
A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense recomendam que o tempo de uso por faixa etária deve seguir as seguintes recomendações.
– Bebês de 0 a 2 anos: não devem ter contato com exposição a esse tipo de tecnologia.
– Crianças de 3 a 5 anos: acesso por até uma hora ao dia, com supervisão.
– Crianças de 6 a 18 anos: acesso por até duas horas ao dia, com supervisão.
A internet usada de forma correta pode auxiliar as crianças e adolescentes em diversas ocasiões, como:
– Auxílio no aprendizado;
– Estímulo na curiosidade com aprofundamento de temas;
– Criação de habilidades e memorização;
– Desenvolvimento de habilidades motoras;
– Comunicação;
– Facilidade na busca de informações e na pesquisa;
– Capacidade de orientação espacial;
– Socialização.
Outro fator que o responsável precisa estar atento é que o seu filho não está seguro na Internet. Com essa onda de violência que vivemos nas ruas muitos pais ficam tranquilos quando seus filhos estão em casa, acreditam que estão seguros. Isso nem sempre é verdade. é um grande engano. Os pais precisam saber com quem eles estão conversando, o que estão postando e o que estão pesquisando.
Antigamente era comum crianças brincando nas ruas de seu bairro. Pais ensinavam a ter cuidado ao atravessar a rua, a não falar com estranhos e não aceitar convite para estar na casa de vizinhos que os pais não conheciam. Atualmente seus filhos estão na Internet, jogando com estranhos, conversando em salas virtuais, publicando no Facebook ou Instagram informações pessoais e seguindo diversas páginas e pessoas que os pais nem imaginam. É preciso ensinar os filhos a se proteger também na Internet e não apenas nas ruas. Na maioria das vezes estão vulneráveis pois estão numa idade de muita curiosidade e em constante formação. Se antes os pais ficavam preocupados que seu filho poderia fazer amizade com um vizinho psicopata na rua, hoje é possível estar no quarto de casa, porem virtualmente numa sala com dezenas de psicopatas.
Uma pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet (CGI) e o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (Cetic.br) constatou que de 29,7 milhões de crianças entre 9 e 17 anos no país, cerca de 23,7 milhões são usuários assíduos de Internet e 83% deles tem o celular como principal dispositivo. O resultado dessa pesquisa serve como alerta sobre os riscos de dependência pela internet e por vídeos games nas crianças e adolescentes.
Devemos observar alguns desses sinais abaixo, para identificar uma possível dependência.
– Muitas horas diárias
– Prefere contatos online aos presenciais
– Não tem atividades de lazer no mundo real
– Isolamento social
– Dificuldade de atenção
– Sono perturbado ou dificuldade para iniciar o sono
– Alteração de humor
– Irritabilidade, tristeza, ansiedade ou birra quando sem acesso à Internet ou videogame
– Queda do rendimento escolar
– Problemas físicos como tendinite, dores musculares, esqueléticas ou sobrepeso.
Os responsáveis devem ficar atentos também a alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento de dependência de internet ou vídeo game da criança ou adolescente.
– Evite publicar fotos dos seus filhos ou postar a todo momento no grupo de família. Você mesmo ensina ao seu pequeno que é muito bacana compartilhar tudo e ficar aguardando as curtições ou elogios.
– Falta de motivação para atividades do seu cotidiano, como colégio, curso, amigos, conversa com os pais etc.
– Carência afetiva
– Falta de limites – não tem rotina estabelecida de quando, como e quanto tempo usar no cotidiano.
– Sensação de liberdade – acreditam que podem fazer o que quiserem na frente do eletrônico e que não tem a vigilância dos responsáveis.
– Influência de amigos para postarem, e seguirem links de diferentes temas.
– Usarem a internet para se sentir incluídos a um grupo de amigos – muitos acreditam que quanto maior o número de seguidores ou de comentários mais ele é querido.
– Dormir com o celular ligado e com alertas para poder acompanhar, mesmo na madrugada, o que vem ocorrendo – tem a sensação de que se não ver ou comentar algo não estará mais no grupo.
– Usar exemplos de experiência de vida ou de opiniões próprias o que recebe online, sem ter críticas ou ponderações, relatar tudo como verdade.
– Estar mais preocupada com o que vai postar do que com momento vivido.
Algumas pesquisas e artigos já referem que a cada cinco crianças, uma já é dependente da Internet. Quando se fala de dependência não se trata apenas do usuário que usa muito, mas já com traços semelhantes à de um dependente químico. Podem apresentar comportamento antissocial manifestado por mentiras, baixo rendimento escolar, pensamento constante em estar utilizando a internet ou o jogo, alteração do sono, ansiedade, irritabilidade, tristeza e angústia.
O tratamento da dependência de internet ou vídeo games é multiprofissional, ou seja, envolve diversas especialidades. Muitas vezes, é necessário administrar medicamentos para reduzir os sintomas de abstinência de alteração do sono, desatenção, ansiedade e humor após a avaliação de um psiquiatra infantil.
A família precisa ser envolvida nesse tratamento. É fundamental que compreenda a patologia e as causas que contribuíram para o seu filho se tornar dependente. É preciso ajudar a cumprir atividades propostas na consulta com o profissional e família. É necessário ter disponibilidade para despertar novos interesses nesse jovem.
Se você percebe que o seu filho já apresenta alguns desses sinais descritos está na hora de realizar mudanças e buscar ajuda profissional.