Autora: Elizabete Possidente

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicou um posicionamento oficial em 17 de julho de 2022 sobre o uso de produtos com substâncias extraídas da maconha (cannabis sativa) em tratamentos psiquiátricos.

A ABP recomenda cautela na utilização de derivados da planta, como o canabidiol e o tetrahidrocarbinol (THC). Isso porque até o momento não existem evidências científicas que provem a sua eficácia contra doenças mentais.

O presidente da ABP também ressalta que o uso de substâncias psicoativas da cannabis pode causar dependência química, encadear quadros psiquiátricos ou agravar sintomas de patologias  já diagnosticadas.

O psiquiatra presidente da ABP critica as propagandas que “endossam estudos sobre os possíveis ‘benefícios’ da cannabis, corroborando para interpretações equivocadas e contribuindo para a impressão de que a maconha é um produto totalmente seguro e inofensivo para o consumo, sobretudo pelos mais jovens”.

Esse tipo de propaganda lembra à época em que os cigarros eram comercializados e indicados por parte dos médicos pelo marketing de aumento do bem-estar e redução do estresse.

Não há evidência científica de que o uso de canabidiol possa ter efeito terapêutico nos transtornos mentais. Não se conhece os efeitos colaterais e a probabilidade de dependência.

O médico deve prescrever apenas uma substância quando está garantido a eficácia e a segurança para o paciente e nos seus transtornos psiquiátricos.

O médico em nenhum local do mundo pode se usar medicamento off label. Temos um exemplo recente que foi o uso da cloroquina para o Covid-19 num momento de desespero da pandemia que foi um insucesso.  

A Associação de Psiquiatria Brasileira alerta que faltam de estudos científicos sobre a eficácia e os riscos do uso de cannabis para doenças mentais. Têm estudos demonstrando que o uso de cannabis podem levar a dependência, causar ou agravar doenças mentais.

A ABP alerta “O uso de cannabis está associado à alteração de humor, à depressão, ao transtorno bipolar, aos transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e à ideação suicida”.

 Publicações científicas estão surgindo mostrando os efeitos negativos na saúde mental dos usuários após a sua legalização.  Recentemente foi publicado na revista científica International Journal of Methods in Psychiatric Research que os surtos psicóticos ligados à cannabis cresceram 30 vezes em Portugal em atendimentos nos hospitais públicos nos últimos 15 anos.

A Anvisa em 2015 publicou uma resolução que pacientes com prescrição médica poderiam importar medicamentos à base de canabidiol. Em 2017, o órgão regulamentou a produção do 1º medicamento com derivado da Cannabis sativa.

Em 2019, a Anvisa aprovou a importação dos extratos de canabidiol e THC para a fabricação no Brasil. Na época foi definido que por causarem risco de dependência e de tolerância (necessidade de aumentar a dose para atingir o mesmo efeito) por isso se trataria de um  remédio de tarja preta.

A Anvisa já liberou 18 produtos com prescrição por médicos em situações de crises convulsivas refratárias e de dores crônicas por doenças oncológicas. O Conselho Federal de Medicina autoriza o uso do CBD (canabidiol) apenas para crianças e adolescentes com epilepsia de difícil tratamento.

Não existem ensaios clínicos publicados em revistas científicas sérias, exceto nos casos de crises convulsivas.

Há um forte interesse econômico. Segundo a projeção realizada pela New Frontier Data, a estimativa do uso medicinal de canabidiol foi estimada em R$ 4,7 bilhões em 36 meses.   

A Gazeta do Povo em agosto de 2021 referiu sobre o interesse do mercado financeiro global na maconha. Conforme análise da consultoria BDSA, publicada em março de 2021, as vendas mundiais cresceram 48% em 2020, em comparação com 2019, e alcançaram US$ 21,3 bilhões. A perspectiva é chegar a 2026 em US$ 55,9 bilhões, uma taxa composta de crescimento anual da ordem de 17%.

Temos que ter muita cautela porque o poder econômico aliado as propagandas nas redes sociais e nos consultórios médicos tem elevado muito o número de prescriçãos apesar da ausência de evidências científicas até o momento.  

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/nao-ha-evidencias-para-uso-da-cannabis-contra-doencas-mentais-diz-associacao-de-psiquiatria/

Publicado por Elizabete Possidente

Formou -se em Medicina em 1994. Foi médica residente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ de 1995 a 1996. Defendeu Mestrado em 1997 a 1999 pelo Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Durante muitos anos foi supervisora de Psiquiatria pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Foi médica perita em Psiquiatria no Manicômio Heitor Carrilho pela Vara de Execuções Penais da Secretaria Estadual de Justiça. Foi médica Psiquiatra e perita em Psiquiatria pelo Ministério da Defesa no Hospital Central do Exército e pela Auditoria Militar. Foi médica Psiquiatra e chefe do serviço de Saúde Mental da Policlínica Newton Alves Cardoso. Tem diversos artigos publicados em revistas médicas. Diversos trabalhos publicados em congressos nacionais e internacionais. Está sempre se atualizando e participando de eventos médicos nacionais e internacionais em Psiquiatria.

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