Gostaria de chamar atenção a alguns dados que me deparei esses dias e que me chocaram de uma forma bem negativa… Devemos tomar consciência e fazer nossa parte.

Cerca de 24% dos crimes contra crianças ocorrem antes dos quatro anos de idade.

Em 2017, foram registrados 126.230 casos de violência a menores, mas com certeza, esses números ainda são subestimados.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou uma nota de alerta intitulada “Combate ao Abuso e à Exploração Sexual e Outras Violências Contra Crianças e Adolescentes em Tempo da Quarentena por Covid-19”. Foi divulgado no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil, 18 de maio.

Na nota de alerta, a SBP resume o problema da violência contra a criança no Brasil e destaca o isolamento social pela pandemia do Covid-19 como uma preocupação para a maior incidência de violência contra as crianças e adolescentes.

A maioria dos agressores das crianças são os pais ou os adultos de seu convívio próximo. Ou seja, a maioria dessas crianças estão em quarentena com os seus agressores, sendo obrigados a passar 24/dia de todos os dias por meses sob medo e tensão. O ambiente de ameaças e recorrente cenas de violência comprometem imensamente o desenvolvimento, crescimento e aprendizado dessas crianças.

Esses responsáveis também estão sofrendo as incertezas, os medos, perda de algum parente ou conhecido, desemprego e outros estressores que podem contribuir ainda mais para seu comportamento violento.

A ingesta de bebida alcoólica também aumentou muito nesse período de pandemia, o que também acaba por aumentar a impulsividade e irracionalidade dos mais velhos. Esse fator também é um importante contribuinte para esse cenário.

Com o isolamento social, o violador não precisa se preocupar com marcas e machucados, pois não poderão ser vistos por terceiros.

Essas crianças em ambientes abusivos enxergam a escola, o futebol, o curso de inglês como uma válvula de escape ou até mesmo um lugar seguro, onde tem contato com pessoas que podem ajudar em algum momento de sufoco.

Durante o isolamento, eles se encontram privados dessa proteção.

A violência doméstica vem aumentando muito durante a quarentena em todo o país, não só às crianças e adolescentes, mas também às mulheres. Devemos nos alertar a esse fato e fazer nossa parte. Cabe a nós, prestar atenção ao nosso redor nos sinais que estão ao nosso alcance. Oferecer apoio a quem necessita e em casos suspeitos ou confirmados, denunciar prontamente. Podemos, as vezes, de nossa casa mudar ou até mesmo salvar a vida de alguém.

O plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro informou no dia 23 de março, um aumento de 50% no número de denúncias de vítimas de violência doméstica e familiar. Isso ainda nas primeiras semanas de pandemia, imaginemos como esses números estarão hoje.

Não temos o registro de quantas crianças estão sendo agredidas, ameaçadas e violentadas ou que presenciam cotidianamente violência em seus lares.

Também a SBP publicou a importância dos cuidados com a internet das crianças e adolescentes nesse período isoladas e com maior tempo nas redes sociais. Os abusadores, psicopatas, pedófilos e outras perversidades também estão com mais tempo para encontrar suas vítimas nas redes.

Como suspeitar da violência

Em um protocolo de atendimento a vítimas de violência publicado em 2018, a SBP destaca como os médicos que atendem crianças podem suspeitar que algo está errado.

Por exemplo, o médico deve suspeitar de pais que omitem total ou parcialmente a história de algum trauma ou que mudam a história quando perguntados mais de uma vez, de explicações contraditórias ou que mudam de um familiar para outro e da demora inexplicável na procura de atendimento médico. Machucados antigos, fraturas mau consolidadas, marcas de dedos, mãos, objetos no corpo dessas crianças são sinais de alerta.

Além disso, algumas condições sociais familiares são consideradas de maior risco de violência contra a criança ou adolescente, tais como uso de álcool ou outras drogas, história de violência doméstica contra outros membros da família, doenças psiquiátricas, história de maus-tratos aos pais durante a infância deles, perda de controle emocional por parte dos familiares ou expectativa irreal dos pais em relação ao filho.

No exame físico, o médico deve estar atento à presença de lesões que não se justifiquem pelo mecanismo do trauma relatado; que não sejam compatíveis com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança; que estejam em múltiplas partes do corpo, em localizações não usuais ou em áreas usualmente cobertas ou protegidas; além de lesões em diferentes estágios de evolução e cicatrização. Devem observar todo o corpo da criança, analisando a constância das lesões.

É dever de todo profissional de saúde que se depara com uma história com suspeita de violência, denunciá-la o mais rápido possível para que os casos possam ser investigados e medidas corretas tomadas.

Abordagem por telemedicina

Com a autorização do Conselho Federal de Medicina para a realização de consultas médicas por meio de ferramentas de telemedicina, surge a possibilidade de o médico se deparar com algum caso suspeito de violência em uma consulta realizada virtualmente.

Na pandemia, mesmo que as consultas sejam por vídeos com recursos da internet, o profissional deve ficar atento aos diversos sinais e sintomas. Na dúvida, deve convidar o paciente e familiares para uma consulta presencial. O profissional deve compulsoriamente preencher a

ficha de notificação de violência no site do Ministério da Saúde e informar ao Conselho Tutelar ou a uma Delegacia.

Familiares, amigos e escola quando já suspeitava de histórico de violência doméstica devem manter o contato com essa criança e adolescente para observar o seu comportamento e oferecer acolhimento e apoio para qualquer dificuldade que possa estar ocorrendo.

Se souber da violência contra a criança também deve denunciar ao Conselho Tutelar ou a delegacia da área de abrangência do bairro de residência dessa família.

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