Autora: Elizabete Possidente
Após seis dias de restringir o uso de canabidiol à duas patologias, o Conselho Federal de Medicina (CFM) abriu uma consulta pública referente ao uso da substância.
A decisão anterior, que restringia o uso, se apoiou em mais de seis mil artigos científicos, mundialmente reconhecidos. Ainda afirmou que não se conheciam efeitos colaterais, possíveis interações com outras substâncias e o potencial para dependência. Afirmou também não ter encontrado estudos randomizados, duplo-cegos e multicêntricos que comprovem a eficácia do uso de nenhum canabidiol em outras patologias. A Associação Brasileira de Psiquiatria apoiou essa resolução do CFM,afirmando que até o momento não há nenhum estudo de comprovação científica da eficácia e da segurança do emprego de canabidiol em doenças psiquiátricas. Não faz sentido dias depois o CFM iniciar uma consulta à população sobre o uso, decisão que deveria ser baseada nos preceitos elencados pelo próprio conselho anteriormente. É de causar muito estranheza essa mudança tão repentina e em tão pouco tempo.
Nem sempre houve esse rigor para liberação de medicamentos. Isso mudou depois que diversas crianças nasceram com má-formação pelo uso da talidomida pela mãe. A partir daí foram criados critérios para tentar ao máximo evitar que isso ocorresse.
Muitas pessoas culpam um suposto lobby da indústria farmacêutica para a não liberação do uso do canabidiol, o que para mim é uma grande bobagem. Essa liberação traria aos laboratórios a possibilidade de investimento, desenvolvimento, produção e venda do medicamento. Essas mesmas pessoas não percebem que o canabidioltambém está sendo produzidos por indústrias de menor porte e confiabilidade, se comparadas às grandes do setor. No momento não vemos multinacionais conhecidas no mundo todo, como por exemplo Pfizer, Abbott, Merck e Roche, venderem o medicamento. Não faz sentido algumas pessoas pensarem que esses players não querem aumentar seu lucro como qualquer outra entidade com fins lucrativos. Por acaso o cabidiol seria distribuídogratuitamente nas farmácias? Claro que não.
Também não entendo o porquê de não cobrarmos o rigor científico nessa decisão. Por que essas empresas não estão investindo nessas pesquisas? Por que preferem gastar dinheiro na divulgação e mídia não especializada? Seria perfeitamente possível realizar esses estudos e apresentar resultados conclusivos, nesse caso não haveria nenhum questionamento.
Fica uma dúvida no ar sobre o motivo da maioria dos canabidióides entrarem na Anvisa para serem liberadas como suplemento alimentar e não como medicamento. Parece claro que o motivo é fugir das regras mais rígidas de liberação para uso. O mesmo ocorre no FDA.
Será que estamos falando de um assunto em que a população deva ser ouvida? Será que existem informações suficientes e bagagem de conhecimento técnico para um leigo opinar sobre um tema que tem tão grande polêmica no mundo científico? Não estamos falando sobre nada estético ou que dependa de opinião ou gosto pessoal, mas sim do uso de uma substância química, que pode afetar de maneira importante a saúde de um indivíduo.
Fico imaginando se no século passado se ouvisse a população sobre a ingesta de determinada dose de bebida alcoólica para tratar a ansiedade, por exemplo. Acredito que a maioria iria responder que é eficaz e é natural. Depois se descobriria que causa dependência, afeta fígado, mata neurônios, além de muitos outros efeitos colaterais.
Segue em anexo o esclarecimento do CFM aos médicos e aos brasileiros sobre a mudança de posição.
