Autora: Elizabete Possidente e Giuliana Possidente
A Academia Brasileira de Neurologia em nota de esclarecimento (anexo ao final) se manifestou em relação à matéria publicada por alguns veículos de imprensa em 26/09/2022, intitulada “Cannabis: idoso tem reversão de sintomas do Alzheimer com óleo da planta”.
A notícia relatava um caso de um paciente de 78 anos diagnosticado com doença de
Alzheimer e que teve seus sintomas supostamente revertidos, com “melhoras no humor, sono e memória, além de a doença se manter estável” após iniciar um experimento com extrato composto por
THC (Tetrahidrocanabinol) e CBD (Canabidiol). Essa mesma reportagem citava que havia mais de 28 casos com resultados semelhantes após 6 meses de tratamento.
Entretanto a matéria não explica que não se pode falar de eficácia ou de não eficácia de tratamento apenas com relatos de casos. É necessário ocorrer diversos ensaios clínicos controlados com placebo antes de se obter conclusões sobre a eficácia ou não de tratamento. É imperativo utilizar dois grupos de pacientes que têm a patologia. Um grupo é selecionado por sorteio para receber o medicamento enquanto o outro recebe um placebo (produto sem efeito no tratamento). Nem os pacientes nem os médicos podem saber quem está tomando o medicamento em teste ou o placebo. Os pacientes e os médicos só sabem quem tomou o medicamento apenas após o fim do estudo (seis meses, um ano ou mais).
Se não for dessa forma os resultados podem ser apenas uma coincidência. No artigo também não se fala de possíveis efeitos colaterais e não sabemos se houve ou não.
De qualquer forma, é uma irresponsabilidade fazer uma chamada dessa na mídia sem ter a comprovação científica de eficácia. Pode ter sido apenas um mero acaso.
O uso de canabinóides para o tratamento de condições neurológicas é atualmente alvo de intensa
pesquisa, com resultados não uniformes até o momento.
Especialistas da Academia Brasileira de Neurologia no período científico Arquivos de Neuropsiquiatria (Brucki SMD et al.Canabinoids in Neurology. Arq. Neuro-Psiquiatr. 79 (04) • Apr 2021) publicaram em 2021 um painel que refere a ausência de evidência científica que apoia o uso do THC ou do CBD como tratamento de sintomas cognitivos ou neuropsiquiátricos da doença de Alzheimer.
Todos estamos na expectativa de que surjam pesquisas que obedeçam o rigor metodológico com grandes amostras para que tenhamos conclusões.
https://www.abneuro.org.br/2022/09/28/
