Autora: Elizabete Possidente

A reportagem vinculada no programa Fantástico da Rede Globo sobre o zolpidem não é uma novidade para os médicos prescritores. O FDA já tinha publicado há alguns anos um alerta sobre os medicamentos para dormir zolpidem, eszoplicone e zaleplon que podem provocar comportamentos bizarros quando mal utilizado.

Se pesquisar nas redes sociais vão encontrar diversos relatos de pessoas que tomaram uma dessas pílulas para dormir e que fizeram coisas estranhas. Algumas falam de ter ido à cozinha para comer, ligado para amigos, postados coisas na internet, feito compras e até saído de casa, sem lembrança alguma do feito. Outros já referiram ter alucinações visuais em uso dessas substâncias.

Antes de condenarem esse medicamento entenda que a substância é segura desde que administrada corretamente com a recomendação médica. O remédio precisa ser utilizado na cama, sem nenhum outro estímulo. Como digo aos meus pacientes, apaga a luz, sem eletrônicos e aí sim pode-se usar a pílula.

Aqui no Brasil temos na forma sublingual e oral na dosagem de 5 mg e 10 mg com efeito mais rápido, ou seja, aqueles que tem dificuldade apenas para iniciar o sono. Também temos na dosagem de 6,25 mg e 12,5 mg com a liberação prolongada para aqueles que precisam do efeito durante toda a noite, sofrem com diversos despertares noturnos ou acordam no meio da madrugada. Portanto, o zolpidem é destinado ao tratamento de insônia ocasional, transitória ou crônica, tanto para aqueles que tem dificuldade para adormecer ou para aquelas que tem dificuldade de permanecer dormindo.

O consumo do zolpidem sem a indicação e orientação médica pode provocar tolerância, dependência ou essas situações de sonambulismo ou amnésia.

É muito chocante sabermos que muitas farmácias vendem sem receita ou dispensam um número maior de caixas do que o prescrito pelo médico assistente.  Isso mesmo com o conhecimento de se tratar de uma medicação de receita controlada. Assim como também numa rápida pesquisa nas redes sociais vemos relatos de mal uso para obter efeito alucinógeno, o “barato”.

Para a maioria das pessoas no nosso país dormir a noite toda é considerada um artigo de luxo. A insônia é uma queixa comum encontrado na maioria dos consultórios médicos.  

Segundo a Associação Brasileira de Sono (ABS) cerca de 73 milhões de pessoas sofrem de insônia no país.  

Se você sofre de insônia não deve ter medo de buscar o tratamento. Não dormir bem aumenta a chance de doenças cardiovasculares, obesidade, dislipidemia, hipertensão arterial, ansiedade, fadiga, desatenção, envelhecimento precoce, baixa imunidade, depressão e risco de morte. Além de aumentar a chance de acidentes domésticos, automobilísticos e de trabalho.

Deve-se buscar o médico para realizar o diagnóstico e a indicação do melhor tratamento para a sua condição clínica. O profissional avalia os aspectos emocionais, a história de vida e de hábitos que possam contribuir para a insônia.

Sempre a primeira linha de tratamento é a Terapia cognitivo comportamental que envolve, medidas de higienização do sono, técnicas de relaxamento e de controle de estímulos que mantém a vigília.

Nos casos sem resposta a essas medidas é indicado o tratamento farmacológico. É imperativo avaliar se a insônia não está sendo sintoma de uma doença psiquiátrica, tais como depressão, ansiedade, TDAH e bipolaridade. Nesses casos é necessário iniciar o tratamento da patologia para melhora da insônia.   Como se fosse uma febre que faz parte de um quadro de pneumonia, por exemplo. Nesse caso não adianta ficar utilizando apenas o antitérmico porque precisará tratar a pneumonia com antibiótico.

Se você sofre de insônia agende o médico para a avaliação da insônia e já invista na higienização do sono.   Se após essas medidas o seu médico recomendar um medicamento não tenha medo e tire as suas dúvidas diretamente com ele em consulta.

Publicado por Elizabete Possidente

Formou -se em Medicina em 1994. Foi médica residente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ de 1995 a 1996. Defendeu Mestrado em 1997 a 1999 pelo Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Durante muitos anos foi supervisora de Psiquiatria pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Foi médica perita em Psiquiatria no Manicômio Heitor Carrilho pela Vara de Execuções Penais da Secretaria Estadual de Justiça. Foi médica Psiquiatra e perita em Psiquiatria pelo Ministério da Defesa no Hospital Central do Exército e pela Auditoria Militar. Foi médica Psiquiatra e chefe do serviço de Saúde Mental da Policlínica Newton Alves Cardoso. Tem diversos artigos publicados em revistas médicas. Diversos trabalhos publicados em congressos nacionais e internacionais. Está sempre se atualizando e participando de eventos médicos nacionais e internacionais em Psiquiatria.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: