Autora: Elizabete Possidente

O diagnóstico de TDAH em mulheres, independentemente do momento do tratamento, está associado a um aumento do risco gestacional. Vários estudos retrospectivos mostram um maior aumento na indicação de cesáreas, aumento de parto induzido, aumento de reanimação neonatal, aumento de admissão neonatal em UTI, aumento de pré-eclâmpsia, aumento do risco de parto prematuro e menores índices de Apgar em mulheres com TDAH sem tratamento adequado.

O aumento dos cuidados com a maternidade muitas vezes leva a paciente a procurar um psiquiatra e receber o diagnóstico de TDAH pela primeira vez. A mãe sente a necessidade de dar conta de tudo o que já existia em sua rotina e lida com a sobrecarga de muitas coisas novas.

Muitos estudos têm surgido mostrando um aumento no número de pacientes que continuam usando psicofármacos durante a gravidez. Dois estudos em particular chamaram minha atenção sobre o assunto. Um estudo canadense demonstrou um aumento de 1,8 vezes na prescrição de psicofármacos durante a gravidez no período entre 2001 e 2013 (Psychotropic Drug Use Before, during, and after Pregnancy: A population-based study in a Canadian Cohort (2001-2013)). Outro estudo realizado na Dinamarca mostrou que o uso de psicoestimulantes por grávidas aumentou de 5 para 533 casos por 100 mil habitantes entre 2003 e 2010, representando um aumento de 100 vezes (Use of ADHD medication during pregnancy from 1999 to 2010: a Danish register-based study).

O diagnóstico de TDAH em uma mulher por si só já é um fator de risco gestacional, independentemente de tratar ou não com medicamentos. Isso ocorre porque as mulheres com TDAH tendem a ter um estilo de vida menos saudável, negligenciando a dieta, não realizando atividade física regular, fazendo uso excessivo de álcool e drogas, e fumando mais, o que aumenta as chances de complicações clínicas devido à obesidade e outros fatores de risco relacionados ao estilo de vida inadequado.

Além disso, sabemos que 70% dos adultos com TDAH têm comorbidades psiquiátricas, como depressão, transtorno bipolar e ansiedade. Apenas essas doenças psiquiátricas já complicam a gravidez, imagine quando associadas ao TDAH.

Os psicofármacos mais utilizados desde a infância até a vida adulta são o metilfenidato e os derivados anfetamínicos. Esses medicamentos são considerados seguros e não apresentam risco de teratogenicidade.

É fundamental que o trabalho seja multiprofissional, envolvendo psicólogos, obstetras e psiquiatras, a fim de garantir o melhor para a saúde física e mental da gestante e do bebê.

Publicado por Elizabete Possidente

Formou -se em Medicina em 1994. Foi médica residente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ de 1995 a 1996. Defendeu Mestrado em 1997 a 1999 pelo Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Durante muitos anos foi supervisora de Psiquiatria pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Foi médica perita em Psiquiatria no Manicômio Heitor Carrilho pela Vara de Execuções Penais da Secretaria Estadual de Justiça. Foi médica Psiquiatra e perita em Psiquiatria pelo Ministério da Defesa no Hospital Central do Exército e pela Auditoria Militar. Foi médica Psiquiatra e chefe do serviço de Saúde Mental da Policlínica Newton Alves Cardoso. Tem diversos artigos publicados em revistas médicas. Diversos trabalhos publicados em congressos nacionais e internacionais. Está sempre se atualizando e participando de eventos médicos nacionais e internacionais em Psiquiatria.

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