Autora: Elizabete Possidente
Quando uma pessoa não apresenta um boa noite de sono, seja por insônia ou por vontade própria, há um impacto no seu sistema imunológico. A privação do sono eleva os marcadores de atividade inflamatória. Esse estado pró inflamatório incrementa o desenvolvimento ou a gravidade de estresse, depressão, doenças oncológicas e cardiovasculares.
Pesquisas nacionais e internacionais sugerem um índice alto de problemas para dormir na pandemia. No Brasil, a Fiocruz divulgou recentemente uma pesquisa feita com 44 mil voluntários e mostrou que 35% passaram a ir para cama pelo menos duas horas depois do horário habitual.
Por que passamos a dormir mal durante a pandemia?
Há uma série de fatores. O mais comum foi a mudança abrupta de rotina. A maioria das pessoas deixaram de ter horários regulares para acordar, sair de casa, das refeições e de dormir.
Ficamos com menor exposição a luz solar que também participa na regularização do ciclo circadiano. Quando a luz incide no nosso olho, essa informação de presença de luz chega ao núcleo supraquiasmático, onde situa o nosso relógio biológico. A percepção de claro e escuro regulariza o nosso relógio interno que é o chamado de ritmo circadiano. A luz artificial constante confunde o relógio circadiano.
A mudança de comportamento imposto pelo isolamento em casa também contribuiu para a piora do sono. Sem sair de casa para trabalhar ou estudar, muitos não trocavam de roupa e ligavam o laptop da cama embaraçando o nosso relógio biológico.
O uso mais acentuado à luz dos dispositivos eletrônicos, principalmente durante a noite, também confundira a percepção de claro/escuro natural, um modulador do nosso relógio.
A redução de atividade física e as mudanças de hábitos alimentares levaram a um ganho ponderal. A OMS publicou que a maioria das pessoas, engordaram cerca de 3 kg no ano de 2020, com exceção da África e dos países do sudeste asiático. O aumento do peso leva a uma maior fragmentação do sono e coopera para a alteração imunológica.
O próprio estresse pelas incertezas da economia, medo de contrair a doença, preocupação com entes queridos, medo da morte, luto por amigos e familiares e o excesso de informações negativas também colaboraram para a piora do sono.
O aumento da ingesta de álcool e /outras drogas também influenciaram muito na perda da qualidade do sono.
O uso de corticoides, uma das medicações utilizadas para tratar a covid e a internação em UTI contribuem para a piora do sono.
Indivíduos com insônia têm aumento das citocinas inflamatórias, principalmente de interleucinas 6 e de fator de necrose tumoral. O aumento desses marcadores inflamatórios acresce o estresse, a ansiedade, a depressão e todas as outras doenças psiquiátricas.
Devemos sempre cuidar do nosso sono. Todos os profissionais de saúde devem investigar a qualidade do sono dos nossos pacientes, tratar ou encaminhar sempre que necessário.


Excelente artigo Dra. Adoro seus escritos
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Fico lisonjeada com as suas palavras.
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