O L-metilfolato é um derivado do ácido fólico. Sete vezes mais biodisponível, consegue atravessar a barreira hematoencefálica para atuação cerebral. O ácido fólico, para formar o L–metilfolato, precisa ser processado em diversas cascatas bioquímicas e a chance de problemas na reposição é enorme.

O L-metilfolato ganhou importância com a realização de alguns testes genéticos em pacientes psiquiátricos, que demonstravam gravidade, cronicidade ou resistência medicamentosa.  Pode-se observar na prática que algumas mutações nos genes MTHFR C667T e MTHFR A1298C, que são relacionados à diversas doenças psiquiátricas como depressão, ansiedade, TEA, esquizofrenia e transtornos de humor. Pacientes que apresentam essa alteração podem ter, dependendo da mutação, um comprometimento até 70% menor na produção da forma ativa do folato do que outros indivíduos.

Os resultados são bastante promissores quando se utiliza o L-Metilfolato associado com certos medicamentos psiquiátricos. O CanMat (Canadin Network for Mood and Anxiety Treatments) recomenda L-Metilfolato para certos perfis de pacientes.

O CanMat é extremamente respeitado por psiquiatras no mundo todo. Ele anualmente publica recomendações de protocolos medicamentosos para o tratamento dos transtornos de humor e ansiedade.  

O L-Metilfolato tem relação com diversos processos bioquímicos no organismo. Muitas dessas reações bioquímicas ocorrem em conjunto com a vitamina B12, como fornecedor de Metila na conversão do aminoácido Homocisteína à Metionina.

Mutações no gene da Metilenotetrahidrofolato Redutase levam à redução do L–Metilfolato, que aumenta de homocisteína no organismo. Essas mutações elevam a probabilidade de diversas doenças cardiovasculares, formação de trombos, dificuldade em engravidar, abortos espontâneos, má formação de espinha bífida e doenças neurológicas. Comprometem também a produção de diversos neurotransmissores como Serotonina, Noradrenalina e Dopamina. Isso faz com que aumente a probabilidade de desenvolvimento de diversas doenças psiquiátricas e baixa resposta terapêutica aos psicofármacos. Causam redução nos níveis de metiltetrahidrofolato associado ao aumento dos níveis de metilenotetrahidrofolato, o que prejudica a síntese e o reparo na expressão de DNA, que causa diversos prejuízos na célula, como o câncer.

Essa pareceria do L–Metilfolato com a vitamina B12 exige atenção redobrada em pacientes que realizam alguma dieta mais restritiva, que possuem doenças gastrointestinais ou realizaram cirurgia bariátrica. E necessário observar que certos medicamentos interferem nesse ciclo do L–Metilfolato.

Na prática isso tudo quer dizer que podemos prevenir ou tratar diversos sintomas relacionados a apatia, depressão, falhas cognitivas, desatenção, irritabilidade, astenia e alteração do sono com esse fármaco.

Até pouco tempo não tínhamos o L-Metilfolato no Brasil. Nos EUA, o ele é mais conhecido com o nome comercial de Deplin. Apesar de ser um derivado de vitamina B9, o laboratório responsável pelo Deplin o lançou como medicamento e não como suplemento alimentar, porque deve ser utilizado com indicação médica, para controle de dose, efeitos adversos, interação medicamentosa ou substâncias, eficácia e tempo de uso.

Na minha prática clínica, apesar das evidências científicas, tive que buscar confirmações para acreditar em todas essas características. Solicitei o exame genético nos meus pacientes mais graves ou mais resistentes a medicação, ou mesmo com tempo de doença mais longo. Foram surpreendentes as mutações encontradas nesses pacientes e as respostas na introdução do L-Metilfolato associado ao tratamento farmacológico.  

Publicado por Elizabete Possidente

Formou -se em Medicina em 1994. Foi médica residente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ de 1995 a 1996. Defendeu Mestrado em 1997 a 1999 pelo Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Durante muitos anos foi supervisora de Psiquiatria pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Foi médica perita em Psiquiatria no Manicômio Heitor Carrilho pela Vara de Execuções Penais da Secretaria Estadual de Justiça. Foi médica Psiquiatra e perita em Psiquiatria pelo Ministério da Defesa no Hospital Central do Exército e pela Auditoria Militar. Foi médica Psiquiatra e chefe do serviço de Saúde Mental da Policlínica Newton Alves Cardoso. Tem diversos artigos publicados em revistas médicas. Diversos trabalhos publicados em congressos nacionais e internacionais. Está sempre se atualizando e participando de eventos médicos nacionais e internacionais em Psiquiatria.

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3 comentários

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  1. Excelente explicação, meu respeito e admiração a Dra. Elizabete, que através deste teste genético e do uso do ofolato, atenuou vários sintomas de forma surpreendente e inesperada no meu tratamento.

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