Autora: Elizabete Possidente
Em todo consultório de Psiquiatria no mês de dezembro há muito trabalho. São muitos atendimentos de 1ª vez ou recidivas. Nesse período começam os usuais anúncios de fim-de-ano, que estimulam o conhecido “balanço do ano passado” e promessas de mudanças na vida para o próximo ano. São revividas várias sensações negativas que pensávamos estivessem guardadas no fundo do nosso baú de recordações, mas retornam com o Natal.
O Natal também reacende diversos problemas que a pessoa tentou esconder durante o ano. Muitos conflitos com pais, filhos, sogros, cunhados e outros familiares, com quem invariavelmente temos contato no Natal. Problemas familiares que já existiam e que não foram resolvidos durante o ano ressurgem nesse momento: as desavenças e vaidades pessoais, problemas financeiros são reforçados. No Natal normalmente lembramos de pessoas queridas já falecidas. Vivemos esse luto reforçado por saudades dos momentos felizes. Mesmo não passando o Natal conosco todas as propagandas, outdoors, programas de televisão e conversas com amigos nos remetem às lembranças. Este ano ainda podemos acrescentar motivos relacionados a divisão política, que nunca foi tão forte no nosso país e dentro da família.
No paralelo desses sentimentos somos envolvidos em redes sociais que mostram festas de finais de ano perfeitas e compras, que soam como uma violência para a pessoa que não está vivendo esse clima. Muitos então passam a se sentir fragilizados, vem a angústia, cefaleia, ansiedade, náuseas, dores abdominais e insônia. Muitos passam a comer em excesso, abusar da ingesta de álcool, comprar em excesso para tentar preencher algum sentimento vazio e desperdiçar muito tempo nas redes sociais.
Chega o final de ano, onde se espera a reavaliação do ano através de uma reflexão pessoal. Começam os questionamentos: quem não faz bem ao seu convívio, mesmo que não queira ter essa revelação. Muitos que já não estavam tão bem assim passam por emoções desagradáveis nesse período, é como se você guardasse todas as emoções, em “gavetas de bagunça”, que vemos em várias casas. Não sabemos o que fazer com aquele pensamento e enfiamos na tal “gaveta”. Parece que “a casa está arrumada”, mas na verdade a “bagunça” só foi camuflada.
É comum um sentimento de estranheza, que erradamente interpretamos como fracasso. Você pode não estar feliz, mas não será um “perdedor”. É como num dia de sol, onde todos curtem uma piscina ou praia, mas você pode não estar nesse clima e é perfeitamente normal preferir outra atividade.
Faça uma reflexão para identificar e entender seus conflitos emocionais e tentar chegar à resolução. Na correria do dia a dia é comum as pessoas não se permitirem parar e pensar nos seus problemas. É como se não conseguisse tempo para arrumar os armários e fosse colocando o que não sabe a utilidade numa gaveta ou prateleira “da bagunça”. Com essa atitude, a casa parece estar bem arrumada, mas vai se acumulando de entulhos e objetos inúteis. Os “entulhos” surgem nessa fase do ano e muitas vezes são novamente mascarados por consumo excessivo, encontros sociais diversos e aumento da ingesta alcoólica e de guloseimas. No final do ano, costumamos abrir a “gaveta” e espalhar a “bagunça” pela nossa vida.
Aproveite essa fase para “arrumar a gaveta”, colocando o passado a limpo, revisando atitudes e revendo pessoas e situações que merecem ser valorizadas ou resolvidas. Valorize mais os aspectos psíquicos porque a virada do ano cobra novas metas e medo de repetir alguns dos fracassos e frustrações passadas.
Veja no O Globo:
https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2022/12/sindrome-do-final-de-ano-casos-de-depressao-e-ansiedade-crescem-perto-da-virada.ghtml
as gavetas às vezes não aguentam o peso…
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Neto por isso devemos aproveitar essa época do ano e faxinar toda essa bagunça. Por mais trabalhoso e dolorido que na maioria das vezes possa ser, é muito válido.
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vdd…
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